Segurança do Paciente para Cirurgia Plástica

12 de April de 2017

 

A Cirurgia plástica é uma das poucas especialidades que trata tanto do paciente saudável quanto do paciente enfermo, tendo como objetivo a devolução deste paciente a sua vida cotidiana numa condição melhor do que a inicial. Para tanto o cirurgião deve ter em mente tanto a sua formação técnica quanto administrativa, sendo esta a que falta geralmente, ficando o recém-formado sem direção ao administrar a vida do seu paciente, quanto às questões de internações, particulares ou por convênios (em determinados casos), e a que tipo de estrutura hospitalar oferecer para o caso.

A segurança do paciente envolve aspectos relacionados a esta estrutura e ás potenciais falhas humanas envolvidas em qualquer assistência a saúde, e serão divididas em alguns temas que serão publicados sequencialmente.

É importante que se tenha em mente que as falhas humanas ocorrem em qualquer sistema e, que sem a análise das mesmas, a tendência é uma ocorrência maior. Com o estudo dos mecanismos de erro, foram criadas várias “barreiras“ para o sistema de saúde, desde as físicas (estrutura hospitalar) quanto administrativas (sistemas de liberação de medicamentos, prescrições eletrônicas, manuais de procedimentos operacionais padrões) que exigem treinamento e educação continuada da equipe.

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Este tema, “Segurança do Paciente” já é discutido desde 1999 com a publicação do livro “Errar é Humano: construindo um sistema de saúde mais seguro”, onde descreve a ocorrência de 44.000 à 98.000 mortes/ano nos hospitais dos EUA pelos danos causados durante a prestação de cuidados à Saúde. A partir deste, a Organização Mundial de Saúde (OMS) seguida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabeleceram critérios e determinaram a implantação da cultura de segurança nos sistemas de saúde para desenvolver mecanismos visando melhorar a segurança do paciente.

Considerando a cirurgia plástica, um dos indicadores mais importantes é o da Taxa de Infecção de Sítio Cirúrgico, que ocupa a terceira posição entre todas as infecções em serviços de saúde (não somente a cirurgia plástica), sendo um evento que comprovadamente aumenta os custos da assistência, sendo responsável pelo aumento da morbidade e da mortalidade, com aumento do tempo de hospitalização. Assunto este, que exige uma busca incessante de estratégias que assegurem nossa assistência, desde a escolha de um bom hospital/clínica, que siga todos os critérios de segurança, até os controles de esterilização (biológicos e físicos), com processos de trabalho em locais adequados, tais quais:

Isolamento Ambiental

Todo centro/unidade cirúrgica exige um adequado isolamento ambiental, não possuindo falhas, frestas, ou comportamento que possibilite a entrada de vetores e sujidades. Assim sempre se recomenda que o mesmo seja longe da entrada do hospital, assim como do abrigo central de resíduos, e sem janelas abertas (deverão estar lacradas). Possuindo entrada individualizada de profissionais (vestiários), diferente dos pacientes (câmara e antecâmara para pacientes), e se possível, saída independente de lixo e materiais a serem esterilizados.

Estrutura física mínima

1. Recepção: identificação dos profissionais , entrega dos kits de cirurgia (pijamas, máscaras, toucas e pró-pé);

2. Vestiário de barreira (entra por um lado e sai dentro do centro cirúrgico)com mobiliário de apoio para troca de roupas e banheiro separado por sexo;

3. Estar médico com copa – após o vestiário, com os alimentos sem excesso de farelos e migalhas, com limpeza rigorosa, sendo que todos os profissionais que estiverem nesta área ou qualquer área após o vestiário deverão estar paramentados completamente com pijamas cirúrgicos e “kits” de cirurgia;

4. Posto de enfermagem e farmácia local deverão estar organizados e identificados;

5. Arsenal de materiais cirúrgicos- separado e climatizado;

6. Área de Resíduos – se possível, saída exclusiva para estes, caso contrário o gerenciamento de resíduos deverá prever o fluxo adequado.

7. Entrada de pacientes deverá ser separada, com barreira contra entrada direta e utilização de maca de transposição, se possível com uma ante-câmera para esta entrada.

8. Lavabo para escovação – número de torneiras = número de salas de cirurgia + 1, não necessariamente no mesmo local, podendo ser distribuído pelo corredor do centro cirúrgico. Torneiras com acionamento por cotovelo, pedal ou sensores de presença, nunca manual com rosca, e em frente deverá possuir espelho para visualização completa das mãos durante a escovação e com relógio para controle do tempo de escovação.

9. Sala de Cirurgia: ampla para possibilitar o trânsito de materiais, equipamentos e profissionais. Evite o armazenamento de equipamentos fora o indispensável. Sem armários, pois dificultam a limpeza terminal da sala.

– Mesa de cirurgia adequada com acessórios e mobilização (Fowler & Trendelemburg);

– Carro de anestesia, com monitores multiparamétricos e ventiladores mecânicos e volumétricos com suprimento de gazes medicinais dimensionado adequadamente (central e reserva;

– Aparelhos de eletrocirurgia (bisturi elétrico) e lipoaspiradores devem ter condições de substituição imediata se houver falhas. Lembre-se do aterramento elétrico da sala para evitar queimaduras;

– Focos cirúrgicos também devem ser dimensionados adequadamente e também com possibilidade de manutenção imediata (no mínimo um foco duplo, para os casos de sala única de cirurgia sem foco auxiliar);

– Acessórios: baldes de lixo “a chute” (com rodas), mesas laterais de apoio à instrumentação, mesa de mMayo e bancos com e sem rodas;

– Porta de sala – deverá ser do tipo “vai e vem” ou com possibilidade de acionamento por cotovelo;

– Supervisão de Enfermagem de nível superior.

– Profissional de limpeza treinado para o setor, responsável pela limpeza das salas, equipamentos e móveis.

10. Sala de Recuperação pós-anestésica (RPA): observação do paciente dentro do centro cirúrgico, com monitores multiparaméticos, condições de assistência ventilatória e atendimento a Parada Cárdio Respiratória. Deverá possuir espaço para pelo menos um leito a mais do que o número de salas de cirurgia, com acesso aos leitos por ambos os lados.

O registro de todo o processo de trabalho através de livro de cirurgias, assim como de controles de esterilização documentados a cada início de cirurgia (guarda dos integradores no prontuário), possibilita o rastreio de eventuais surtos que possam ocorrer, favorecendo as ações de contenção do surto e vigilância sanitária.

A contaminação reversa é um problema, já que pode ocorrer por atos inseguros – erros e violações de procedimentos por má prática de profissionais, contaminando mesas, maçanetas e materiais que possam cair ao chão, mesmo fechados. A limpeza das roupas de profissionais e pacientes faz parte deste processo de prevenção de infecções sendo um tema bastante complexo, devendo ter cuidados semelhantes aos empregados na central de esterilização.

Vale lembrar que todo o esforço para garantir a melhor assistência ao nosso paciente é válido e extremamente gratificante.

Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

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